24.5.07

Engano

Agora a luz não brilha mais!

Há aquela janela
que me parecia sorrir,
mas... NÃO!
Era apenas fantasia.

Lembro-me do teu olhar.
Verdadeiramente vivo,
verdadeiramente inebriante!

Coloquei as mãos sobre os teus olhos,
para não ferires a noite, mas
a tua alma já se tinha ido embora
deixando apenas a memória do sono.

Foi um erro!
Eu sabia,
mas depois das palavras que te disse,
depois do OUTRO,
como poderia compensar-te?

(... foi um erro dos dois...)

Perdoa-me.

22.5.07

Crueldade

Parece que nem todas as deusas
são poderosas.
Parece que até os mortais
se defendem do destino.

Chegou o Verão!

Procura-me.
Deixa-me seduzir-te...

Dolorosamente sóbrio, ébria de ti ( e porque insistes em publicar)


(Sabes o sabor amargo do instante?
Sabes, quando a caricia
em vez da seda
te abre a secura do deserto?
Apenas uma lágrima.
Depois dela a sensatez.
É apenas um copo.
Depois dele o esquecimento.)



Procura-se um rio de ilusões
(chamaste-lhe "instante")e deixa-se fluir
amparado pela paixao das palavras.

Não tu,
que não falas muito!
Eu!
Eu, que me incendeio nelas
Eu que as escolhi
para te seduzir no anonimato.
Ironia do destino:
a dor também é anónima,
porque não te encontra,
não sabe refugiar-se nos teus braços.

A dor está na minha frente,
serena,
destruindo a memória de um corpo rendido.

Vens beber comigo esta dor?

Hoje... somos UM (dei-te um olhar e ficaste cego!)

Hoje,
deixo as palavras para ti,
na esperança
de que não as reveles!


Está na tua mão retomar a magia,
sem medo de te encontrares,
CONTIGO!

Confuso (sem saber onde sou eu, sem saber onde és tu)


Ele.
Colocou-lhe os braços no lugar das ancas.
Prendeu-lhe os cabelos no lugar dos seios.
Embaraçou-a com os olhares de mel trocados por beijos.
Ela.
Perdeu as palavras,
atormentada que estava com a ideia de o perder a ele.
Deixou-se ir, como quem espreita o amanhecer.
Ele.
Sentou-se na cadeira onde ela estivera antes.
Viu-lhe o pescoço, a curva do ombro, a brancura da pele.
Ela.
Sentiu-lhe o cheiro, tomou-lhe a mão, procurou a boca.
Recostou-se na cadeira, lembrando o abraço.

Pararam os dias.
Ela.

Voou.
Ele.

Sonho.

Como se eu pudesse ser apenas (a tua alma presa na vaidade!)



Do murmúrio dos pássaros,
não quero ouvir falar!

Do perfume da erva molhada,
não quero ouvir falar!

Da doçura da tua pele de amêndoa,

não quero ouvir falar!

Do brilho místico dos teus olhos peregrinos,

não quero ouvir falar!

Do sabor (a sangue) dos teus lábios reservados,


não quero ouvir falar!



te esperei para me aninhar
como o riso de um menino no regaço da mãe

te abri em sonhos o meu ventre

como se estivesse em ti o meu repouso.

.

Sou.
Procura-me (apenas) nos momentos de saudade

dos olhares entrelaçados.

Procura-me (apenas) nas verdes lágrimas

dos sentidos serenamente abandonados.

Sou (apenas) uma ideia

ferida de desejo na lucidez das madrugadas.


Enlaço-te!

Se tu pudesses ficar ( os olhos seriam lábios! )



Não vás ainda!
Esquece a vertigem das noites anónimas.
Ficou apenas o sal desse mar que foram os meus dedos
timidamente
procurando ondas nas tuas costas.

(Lembras-te?)
Era tanto o silêncio que foi preciso chorar!

Fica!
Os cabelos escondem lágrimas,os olhos são de marfim
e as mãos…
oh!
...as mãos,
soltam-se
ao mais sereno toque
do Outono.

Ainda nos falta o Verão!
Não vás!

Ainda mais perto (basta que te inspire!)



Eras um rio
enrolado no desejo
a verter luz sobre o meu peito.

Chegaste.
Impossível de conter
nasceu o dia

e foi naquele instante que eu me vi

hesitante
no limite do teu sorriso.

Estávamos nus e era cedo
para que os lábios se tocassem…

Retrato de um corpo em abandono - (para não ser publicado!)



Não ser luz e brilhar,perder os olhos na sombra!
Abandonar a alma
e suspirar,
delirar de gozo e de paixão!
Estar bem perto
e não tocar,
sentir e não doer
esta ilusão!
O sonho
que não te adormece,
o sabor
que a boca não incendeia!
O corpo
que desenhas de memória
e te foge das mãos,
com a leveza da areia
escapando nas madrugadas!

(Ai que fome... das tuas confidências!)